quarta-feira, 5 de maio de 2010
METADE
Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito,
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito,
e a outra metade é o silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda, mesmo que triste.
Porque metade de mim é partida
e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não
sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor, apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que esta minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que esta tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, e a outra metade é um vulcão que convive comigo mesmo e que se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito, e que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é AMOR e a outra metade também.
...Oswaldo Montenegro
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