Quando conhecemos uma pessoa, construimos uma imagem dela.
Esta imagem tem a ver com o que ela é de verdade, tem a ver com as nossas expectativas e tem muito a ver com o que ela "vende" de si mesma. É pelo resultado disso tudo que nos apaixonamos.
Se essa pessoa for bem parecida com a imagem que projetou em nós, desfazer-se desse amor mais tarde, não será tão penoso. Restará a saudade, talvez uma pequena mágoa, mas nada que resista por muito tempo.
No final sobreviverão as boas lembranças.
Mas se esta pessoa "inventou" um personagem e voce caiu na arapuca, aí, somado a dor da separação, virá um processo mais lento e sofrido; o da "desconstrução" daquela pessoa que voce achou que era real.
Milhares de pessoas estão vivendo seus dias aparentemente numa boa, mas por dentro estão desconstruindo ilusões, tudo porque se apaixonaram por uma fraude, não por alguém autêntico.
Os desonestos do amor são aqueles que fabricam idéias e atitudes, até que um dia cansam da brincadeira, deixam cair a máscara e o outro fica ali, atônito.
Quem se apaixonou por um falsário, tem que descontruí-lo para se desapaixonar. É um sufoco. Exige que voce reconheça que foi seduzida por uma fantasia, que voce é capaz de se deixar confundir, que o seu objetivo de amar é mais forte do que sua astúcia.
Significa encarar que alguém por quem voce dedicou um sentimento nobre e verdadeiro não chegou a existir, tudo não passou de uma representação - e olha talvez até nem tenha sido por mal, pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma, por isso ela se inventa.
A gente resiste muito a aceitar que alguém que amamos não é, e nem nunca foi, especial.
Que sorte quando a gente sabe com quem está lidando, mesmo que venha a desamá-lo um dia, tudo o que foi construído se manterá de pé.
Martha Medeiros
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